‘Segui, curti 9 fotos e marcamos um date’; ‘Já rolou até sexo’: como o Instagram tem sido cada vez mais usado como Tinder

‘Segui, curti 9 fotos e marcamos um date’; ‘Já rolou até sexo’: como o Instagram tem sido cada vez mais usado como Tinder

O g1 conversou com pessoas de diferentes idades para entender como elas usam uma rede social tradicional para flertar. Segundo elas, é possível aproveitar os próprios recursos da plataforma para chamar a atenção do usuário desejado. Como o Instagram tem sido cada vez mais usado como Tinder
“Consigo lembrar de pelo menos quatro investidas que resultaram em dates depois. Mas nem sempre tive sucesso”. “Já consegui muitos encontros, crush e quase rolou alguns namoros por lá também”.
Nada disso aconteceu em aplicativos de relacionamento como Tinder, Bumble, Happn e afins. Todas essas experiências contadas acima rolaram no Instagram e tem muita gente usando a rede social de Mark Zuckerberg para flertar e encontrar um romance 🫦.
No TikTok, por exemplo, são inúmeros vídeos de usuários que relatam suas experiências e dão até dicas de como usar a plataforma para arranjar um par.
A própria Meta, dona do Instagram, confirmou essa tendência entre a Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) na hora da paquera. Um levantamento da empresa divulgado em 2023 ainda mostrou que 28% desses jovens, ao conhecer alguém novo, preferem se seguir no Instagram em vez de trocar o número do telefone.
Nesta reportagem, essas pessoas contam os prós e os contras de usar uma rede social comum para essa finalidade.
As estratégias usadas na hora do flerte 🔥
Não tem muito segredo para usar o Instagram como app de relacionamento, segundo os usuários ouvidos pelo g1. É comum aproveitar os próprios recursos da rede social, como as curtidas e o “Close Friends” (“Amigos Próximos”), para chamar a atenção.
Reações e curtidas nos stories são algumas das estratégias mais comuns. O 🔥 (foguinho) é o mais famoso: as pessoas costumam usar esse emoji para mostrar que você é interessante — é uma forma mais direta de indicar interesse.
Também tem aqueles que adicionam o crush ao “Close Friends”, para passar um sinal mais claro de que você é importante.
Alguns vão além 👀: tem casos de usuários que tiram todos os amigos do “Close Friends”, deixando só a pessoa que eles estão interessada para biscoitar 🍪 (termo usado para quem publica foto de si mesmo, para se exibir) e chamar a atenção dela.
‘Curti 9 fotos e marcamos um date’
O gerente de carreira de influenciadores Rafael Rafic, de 41 anos, usa o Instagram para flertar com outras pessoas.
Arquivo pessoal
O gerente de carreira de influenciadores Rafael Rafic, de 41 anos, sempre usa o Instagram para tentar se relacionar com outras pessoas. Mas ele também disse que já utilizou outras redes, como o Facebook e o X (ex-Twitter), para flertar.
Rafael é um homem gay e afirma que, no Instagram, as pessoas não flertam diretamente pensando em sexo, como no Grindr (principal app de relacionamento da comunidade LGBTQIA+). Comparado com o Tinder, ele acredita que é mais fácil se conectar por meio de redes sociais, pois ali você já tem mais informações sobre a pessoa.
“Até sexo eu já consegui no Instagram: nos conhecemos lá, marcamos de nos encontrar, transamos e nunca mais rolou nada. Mas seguimos um curtindo o post do outro”, diz Rafael.
Claro que, assim como em apps de relacionamento, a reciprocidade, ou seja, o interesse mútuo, é importante. “Se você der like em algumas fotos e a pessoa não curtir de volta, nem adianta seguir ou comentar em stories, porque provavelmente ela não se interessou por você ou já está namorando”, diz Rafael.
O publicitário Ygor Damasceno, de 24 anos, também adota algumas técnicas quando encontra um rapaz que é a sua cara. Primeiro, ele segue a pessoa e curte até três fotos: uma recente e outras mais antigas.
“Depois, você evolui: responde aos stories, adiciona a pessoa aos ‘Close Friends’ e comenta nas fotos. Às vezes, algumas respostas têm um apelo mais sexual ou romântico. Quando me interesso afetivamente, passo a compartilhar outros conteúdos que possam ter a ver com a pessoa.”
Ana Maria*, de 34 anos, diz que, de 4 flertes, 3 deram certo pela mídia social. “É bem melhor. Sou péssima na arte do flerte e conto nos dedos quantas vezes saí com alguém de app de relacionamento. Geralmente, o papo fica no ‘oi, tudo bem?’ e acaba ali”.
“Uma vez, teve um amigo de um amigo que eu já conhecia, mas ele namorava. Depois, descobri que ele tinha terminado, comecei a seguir no Instagram, curti 9 fotos, conversamos e saímos”, diz.
Em outro rolo pelo Instagram, Ana se envolveu com um amigo de suas amigas. Segundo ela, o rapaz vivia assistindo aos seus stories, mas não a seguia por lá.
“Certa vez, resolvi seguir, ele seguiu de volta. Postei uma foto com uma dessas amigas, coloquei: ‘saudades’, e foi certeiro: ele respondeu e conversamos a partir daí”.
“Quando quero chamar a atenção dele, sei direitinho o que preciso postar. Só devo esperar uns minutos pro bichinho reagir”, conta, aos risos.
Casais formados pelo Instagram
Natalie Soares conheceu a namorada pelo Instagram
Arquivo pessoal
E tem aqueles casos que realmente terminam em relacionamento sério. A editora de conteúdo Natalie Soares, de 38 anos, conheceu a namorada Anielle pelo Instagram. “Em 2019, uma amiga minha, que não conhecia a Anielle, achou o perfil dela usando alguma hashtag de mulheres LGBT+”, conta.
Natalie, então, começou a segui-la e foi seguida de volta. “Depois, fui até o feed e curti as fotos antigas dela. Em seguida, postei um story qualquer e ela me respondeu: “Meu Deus do céu, [palavrão], que belíssima”.
As duas passaram a conversar e logo veio um convite para um brunch — o casal está junto desde 2020. “Cheguei a desistir dos apps tradicionais e, como diria a sabedoria popular do X, toda rede social pode ser um bom Tinder se você souber usar direito”, analisa.
Karen Guinancio conheceu o namorado Glauco no Instagram
Arquivo pessoal
Já a profissional de TI Karen Guinancio, de 28 anos, apostou na reação de 🔥 (foguinho) para conquistar seu atual namorado, Glauco. Em 2021, Karen havia terminado um relacionamento longo e estava disposta a conhecer novas pessoas. Foi então que um amigo dela, Ariel, comentou sobre o Glauco.
“Eles já eram amigos. O Ariel me deu o Instagram do Glauco, e eu fiquei perdida, pensando: ‘Tá, mas o que fazer agora?’.
“Foi então que o Ariel me estimulou a puxar assunto e eu resolvi reagir a um story do Glauco, em que ele estava tocando guitarra.”
Ele respondeu com: “Olá, moça! Seja bem-vinda. Vimos que temos um amigo em comum hahaha”. O casal conversou sobre as coisas em comum e marcou um primeiro date. No primeiro dia, a conversa foi boa, mas só ficou nisso, contou Karen.
“Depois, eu me convidei para ir na casa dele porque ele disse que fazia um hambúrguer muito bom. Nesse dia, a coisa avançou mais. Não deu um mês, a gente começou a namorar e, depois de três meses, passamos a morar juntos”.
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Usar uma rede social como app de relacionamento, porém, requer certo bom senso, porque pode gerar incômodos em alguns usuários. Embora já tenha utilizado o Instagram para flertar, a jornalista Rebecca Menezes, de 31 anos, se incomoda com alguns contatos abusivos.
“Eu já tive um rolinho com uma menina que conheci no Instagram e temos contato até hoje. Mas também tem muita gente que vem flertar comigo e eu acho desagradável o tipo de abordagem. Algumas pessoas acham normal começar a te seguir e curtir 37 fotos suas na sequência”, conta Rebecca.
“Se eu quero flertar com alguém em redes, eu mando umas DMs comuns antes, demonstro interesse pelo que posta, tento sentir abertura”, completa.
*O nome Ana Maria é fictício; ela preferiu preservar a sua identidade.
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